Parte de mim
A camisa era branca, bordada, com a manga em balão. Pensei logo: vai ficar linda com aquela saia ou até com aquelas calças de ganga... Mas não era minha. A minha madrinha ofereceu-a à minha Mãe, quando veio de viagem. Passados uns dias saímos em família e eu perguntei: não levas a camisa? Hoje não, noutro dia. Uns dias depois a minha Mãe foi operada. Era um tumor que não se tinha manifestado. Foi retirado. Ela veio para casa, debilitada, doente. Quando saía para a quimioterapia, para as consultas, para o Hospital, nunca queria levar a dita camisa porque 'levo numa ocasião especial' dizia. Porque para a minha Mãe ocasião especial era sair com os filhos, arranjada, bonita, de mãos dadas com o marido. Fomos a uma cabeleireira quando lhe começou a cair o cabelo. Não havia uma peruca que gostasse, uma com a qual se sentisse ela própria. Eu sentei-me na cadeira e disse à cabeleireira: corte. Tinha o cabelo quase pela cintura, não era pintado. Era apenas um cabelo com caracóis, que